A ESQUERDA INIMIGA

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O antagonismo a esquerda brasileira nunca foi tão explicito, e eu não diria que esteja mais forte, pois o ódio à essa vertente sempre existiu, mas diria que hoje o discurso anti-esquerda se tornou mais visível, explicito, e o que não esperávamos era que ele tomasse conta da grande massa. 

Mas afinal, que discursos são esses? Quem são as pessoas que sustentam esses discursos? Ou quais instituições? Segundo a Teoria pós-estruturalista das Relações Internacionais, os discursos, a maneira como enxergamos o mundo, o que acreditamos que seja verdade e aquilo que tomamos como parte do nosso conhecimento, é antes de mais nada nos imposto através dos atores que representam as elites.

Essas elites não são representadas simplesmente por pessoas, grupos, ou instituições que detém capital, mas são como algo ou alguém que detenha além do capital, certo poder e dominação das massas através de seus discursos, como os telejornais que em dado momento expõem a sua opinião sobre algo, os líderes dos negócios que usam da sua força financeira para moldar como o mercado deve agir e os homo politicus que decidem a politica e o foco da direção de um Estado.

Somos constantemente moldados por esses discursos, e sem acrescentar certo filtro sobre o que estamos absorvendo, tomamos tais informações e conhecimentos oriundo das elites como a nossa verdade. É como se esses discursos fossem nossos e fizessem parte dos nossos interesses, mesmo que as abordagens naquele discurso em questão não nos tragam benefícios nem a curto, médio e longo prazo.

Estamos propensos a acreditar que o que não é bom para as elites, também não seja bom para nós. Vivemos com um déficit gravíssimos em conseguir decifrar o que de fato é bom para nós ou não, e assim, seguimos um discurso que não é nosso e que não nos representa, nem como pessoas e nem como classe. Somos a classe dominada, seguindo a classe dominante. Nada muda. 

Muitos nunca viajaram para fora do nosso país, ou nunca tiveram que lidar com a troca do real para o dólar americano, ou qualquer outra moeda que seja, mas se os telejornais nos informarem que o preço do dólar cai com certo candidato, e que a bolsa de valores, na qual não temos dinheiro aplicado sobe, criamos a tendência de acreditar que este candidato será a nossa melhor escolha, mesmo que não saibamos nada sobre politica cambial, aplicações e etc. Este é o poder dos líderes de negócios e da mídia sobre nós.

Nos últimos 12 anos tivemos uma maior representação por partidos de esquerda no Brasil, partidos que em sua origem configuram maior apoio e emancipação de direitos às classes mais baixas. Hoje, devido à crise econômica, política e social, as classes mais baixas, que representam a grande massa, estão aderindo ao discurso de empresários e de alguns políticos, de que o motivo pelo qual vivemos essa crise se da pelos anos de representação da esquerda no país.

Pois então, por que a crise não se erradicou quando as grandes massas saíram às ruas com o discurso da direita brasileira de baixo do braço a favor do golpe? Por que a crise não se erradicou com as reformas de Temer que visava o corte de gastos e reparo nas contas públicas, e com a queda da esquerda do poder? Apoiamos um impeachment sem sequer nos importar com os impactos que isso traria ao país. 

O título do texto se chama ‘’A esquerda inimiga’’ pois hoje esse é o viés de sustentação dos discursos das elites, é isso que traz votos, audiência e chama a atenção. É a moda e a tendencia do atual momento colocar a esquerda como inimiga. O que as massas estão deixando de enxergar é que a Direita construiu seu próprio discurso há anos e agora o consolidou de forma reacionária, elitista e truculenta, nos informando e nos ensinando da maneira mais bárbara existente sobre quem são os nossos novos inimigos e a quem devemos combater a partir da justificativa da corrupção, e do medo de uma nova Venezuela, de uma sociedade dividida e desamparada, até que por fim, derrubemos todos os representantes da esquerda, que são segundo eles os nossos inimigos, e assim sobrando apenas os seus candidatos, representantes da Direta conservadora e limpa, que apaga o seu passado apoiador do Golpe de 64, e que agora é eleita pelo voto popular e sem reclamações de fraude, sem auditoria nas urnas, e indiscutivelmente legitimada, até porque neste caso, a voz do povo é a voz de Deus.

A Ciência Política de Maquiavel perdeu a Virtu e a Fortuna, talvez não seja necessário ter nenhum dos dois para a manutenção de um principado, como sustentado em suas teses. O Contrato Social de Rousseau que assegurava a liberdade, bem-estar e a segurança foi rasgado, porque perdeu pra violência, pro ódio e pro autoritarismo. E nós perdemos pra extrema-direita brasileira, a nossa eterna inimiga.

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Comentários

  1. Você não acha que a esquerda também está dividida,dando assim vazão aos "ataques "dos reaças?

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