A GREVE DOS CAMINHONEIROS, POR UMA PERSPECTIVA PÓS-ESTRUTURALISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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A greve dos caminhoneiros, que teve inicio no dia 18 de maio, numa sexta-feira – por conta do aumento constante de combustível – e permaneceu por mais 13 dias, finalizando no dia 30 de maio com operações do exército e da polícia rodoviária federal nas rodovias, foi uma das representações mais claras do quão insatisfeito anda o povo brasileiro, e também, de como os brasileiros tem dificuldades em se posicionar, devido às diversas informações passadas pela mídia. 

É justamente essa dificuldade que nos da abertura para uma análise da greve e da posição dos brasileiros perante essa situação segundo a teoria pós-estruturalista das Relações Internacionais, que tem como um de seus focos fazer uma desconstrução dos discursos, principalmente dos discursos das elites.

Devido ao poder e prominência de certos atores na sociedade, somos frequentemente influenciados por opiniões e posições nas quais não são as nossas, e o maior exemplo disso é: os ministros do governo decidem a política e o foco da direção de um estado, os líderes de negócios que representam as grandes corporações, aproveitam de seus recursos financeiros para definir a direção do mercado e os veículos de comunicação decidem como uma pessoa é retratada, seja a partir de uma novela ou uma série de TV enquanto relatam uma história, ou também pela forma como retratam suas notícias. 

Por isso, na teoria pós-estruturalista as elites são consideradas protagonistas dentro da sociedade, pois usam de sua autoridade para reforçar ainda mais pontos de vistas que servem para os seus próprios interesses a um vasto público. 

Durante a greve dos caminhoneiros, algumas emissoras de TV aparentemente estavam fazendo com que fossemos contra as manifestações e por traz dessa posição, podemos imaginar que era  um possível medo de uma comoção publica muito maior do que já estava acontecendo, o que geraria problemas maiores, política e economicamente para o Brasil. Um dos argumentos das emissoras, era que a manifestação estava acontecendo por conta de um locaute, à pedido dos empresários, no caso, os patrões dos caminhoneiros, assim, deixando a entender que o povo brasileiro não poderia apoiar tal manifestação, pois ela não era totalmente legitima. 

Além de ter evitado uma grande comoção publica com essa notícia, as grandes mídias também usaram de outra informação que deixou a maior parte dos brasileiros com o pé atrás com a greve, que era a possibilidade de um golpe militar apoiado pelos caminhoneiros. Obviamente vemos que na situação atual do Brasil, temos pessoas que são a favor do golpe militar e outros que sem sombra de dúvidas são contra, mas o que quero deixar claro é: a partir dessa informação, a greve sendo legitima ou não, você põe a maioria dos brasileiros que são contra o golpe militar, também contra às manifestações dos caminhoneiros. 

É impossível saber ao certo a legitimidade ou não da greve, ou a posição certa dos caminhoneiros referente ao que eles estavam reivindicando além da gasolina, mas a partir disso, fica claro que essas informações passadas pelos grandes veículos de comunicação evitaram uma comoção pública maior durantes os 13 dias de greve. 

Outro ponto importante, é analisar a posição das grandes corporações para com a greve, e com isso, podemos dizer com toda certeza: se fosse benéfico para os empresários que nós brasileiros fossemos para as ruas, já teríamos ido. Já teríamos sido influenciados por algum discurso, mas na verdade, fomos parados pela dúvida. E também se repararmos, parece que nenhuma das grandes empresas –  por mais que estivessem perdendo milhões de reais, devido a falta de gasolina para locomoção dos trabalhadores, abastecimento dos mercados e utilização de outros bens de consumo – estava se posicionando com a situação. 

Um contraponto à isto, foram as manifestações de 2014 contra a ex-presidente Dilma, na qual tivemos a influência das grandes emissoras de TV e também de grandes empresas, como a FIESP,  a influência e manipulação pelo discurso foi tanta, que denegriram a imagem da ex-presidente Dilma nem como uma presidente, ou por ter feito um mau trabalho, mas sim como uma mulher e como pessoa, tudo para tira-la do poder. Tais movimentos evidentemente influenciados pelas grandes empresas e pela mídia. O que neste caso, entra a questão do machismo intrínseco em nossa sociedade, pois raramente vemos um presidente homem, sendo criticado ou tendo sua imagem denegrida por ser homem, mas sim pelo fato de ter feito um péssimo trabalho em seu cargo político. 

A questão que nos fica é tentar avaliar o que teria por traz dos meios de comunicação e das grandes corporações não quererem que os brasileiros fossem para as ruas. O fato de ter muita empresa deixando de lucrar com isso sem se posicionar é intrigante. Seria o simples fato de evitar uma piora na crise política e econômica do país? Ou será que a greve foi ilegítima por conta do locaute e por isso não obteve o apoio desejado? Mesmo com o fim da greve e a baixa no preço dos combustíveis ficamos com as dúvidas no ar.

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